Você é capaz de incentivar e cultivar uma comunidade?

É interessante perceber que o conceito de comunidade se fortalece ainda mais em tempos de pandemia. Uma comunidade pode ser definida como uma população que habita um lugar e partilha dos mesmos interesses. O que vem acontecendo com o avanço tecnológico e a “digitalização” de tudo, é que o mundo acabou por ressignificar “lugar”. Hoje o local que habitamos grande parte do nosso tempo é virtual.

Diante disso, acaba que se torna quase irrelevante o lugar onde as pessoas habitam, o importante são os valores que compartilham, os interesses que as unem. E é exatamente isso que importa quando falamos sobre comunidade e foi essa a motivação para o tema do 12º Encontro da Comunidade de Prática de Agile Business Owners no Brasil.

Negócios em Comunidade

Para enriquecer o debate sobre o tema, convidamos dois profissionais incríveis e que são grandes referências no mercado diante do assunto comunidade. Yara Mascarenhas Senger, CEO no The Developer’s Conference (TDC) e Cesar Brod, Director of Community Engagement no Linux Professional Institute (LPI).

Um ponto trazido no início do discurso do Cesar Brod foi que nós seres humanos, diferente de outras comunidades no reino animal, somos capazes de contar histórias. Essa frase está no livro “Sapiens” de Yuval Noah Harari, eu complementando, também é uma capacidade humana formar comunidades com pessoas de diferentes culturas, algo que no reino animal não é tão comum.

É exatamente nesse ponto que, segundo Yara Senger, os desafios atuais, pelo avanço da tecnologia e mais recentemente, com a pandemia, fazem com que empresas percebam a importância de terem comunidades em torno de seus negócios. Senger reforça citando James Gosling, programador e criador do Java que “comunidades são capazes de trazer os negócios para a realidade”, ou seja, comunidades em torno dos negócios podem se tornar um elo muito forte entre as expectativas do mercado e a operação do negócio.

A relação entre comunidade e modelos de negócio

O debate do evento foi pautado muito de como começar e gerenciar uma comunidade. Quais os desafios na sua criação e manutenção. Um ponto importante é, devemos ter clareza em qual propósito a comunidade está alicerçada. Eventos como o TDC, liderado pela Yara, atrai milhares de pessoas a cada edição e possui uma clareza no seu propósito. Algo capaz de movimentar também pessoas dispostas a ajudarem no evento como facilitadores e palestrantes, de forma gratuita. É imperativo compreender que eventos, bem como outros recursos para facilitar a união de pessoas, são ferramentas que promovem e facilitam com que as comunidades possam surgir e se fortalecer.

Esse ponto leva nosso debate para o conceito de “Plataforma”. Termos que surge de forma complementar a comunidade e que hoje ganhou a atenção e passou a ser a grande “obsessão” de muitos CEOs mundo a fora. O livro “Plataforma, a revolução da estratégia” revelar que “grande parte do valor da plataforma provém da comunidade que lhe deu origem e à qual servem”. Logo, uma comunidade ganha foça para escalar se utilizando de diversas plataformas, mas uma plataforma sem uma comunidade, talvez seja como um corpo sem alma.

Se estamos diante de uma comunidade que se engaja a partir de um propósito, certamente o que faz com que pessoas se conectem entre si, tem a ver com suas crenças e valores.

Essas crenças e valores fomentam o comportamento de experimentação e adaptação. Cesar Brod citou Reid Hoffman, fundador do Linkedin, que disse certa vez que “se você não tem vergonha da primeira versão do seu produto, você demorou demais para lançar”. Essa frase de Reid traz à tona um perfil de empresas que compreenderam como funciona a dinâmica da nova economia digital. Uma economia com abundância de oportunidades, reveladas pelo rápido e constante avanço tecnológico e que acompanha as mudanças de comportamento das pessoas. Dessa forma, nunca foi tão importante exercer o ciclo de criar, medir e aprender, algo trazido pelo livro de Eric Ries, Lean Startup, em 2011.

Para que isso ocorra, é necessário que se construa e se preserve um ambiente psicologicamente seguro, algo muito valorizado dentro das comunidades em torno de um tema.

Paralelo a isso, a criadora do TDC, Yara Senger, afirma que comunidades são fáceis de serem construídas quando as pessoas já compartilham de um propósito entre si, ou seja, elas surgem quase que organicamente. Trouxe o exemplo das cooperativas, que tem um propósito tão forte que transformaram isso em uma associação formal. Dessa forma, criar uma comunidade em torno de um negócio é um grande desafio para os executivos, uma vez que, se o negócio buscar criar uma comunidade à partir de seu produto, irá encontrar mais resistência do que quando esse desejo partir de pessoas que se sensibilizam com um problema ou desafio, comum a todos. Novamente podemos falar do exemplo das cooperativas, que se formam ao redor de um problema comum, por exemplo cooperativas de professores ou produtores rurais, como citado por Yara, que se conectam para terem mais força seja na negociação por melhores taxas e preços nas compras de insumos, no caso do agronegócio, seja pela luta por diretos para os professores.

Uma oportunidade de ampliar as nossas referências

O tema comunidade foi escolhido por acreditarmos que é possível fomentar, não apenas a colaboração entre pessoas que compartilham dos mesmos problemas, mas, de pessoas que querem criar algo grandioso, algo memorável. No nosso próprio exercício com os encontros mensais do que batizamos de Comunidade de Prática do Agile Business Owner, ou CoP (do inglês, Comunity of Practice), temos observado as trocas valiosas a cada novo encontro. São diferentes pontos de vista sobre aspectos comuns a todos. Uma oportunidade de expor um problema sem o peso de julgamentos ou repreensões. Imaginem o benefício para os seus negócios se esse espírito de comunidade ganhar força dentro da empresa na qual você faz parte? Se a comunidade surgir a partir das necessidades ou problemas da sociedade? Eu acredito que possa acelerar e muito a capacidade de inovar de sua organização e assim, revelar uma comunidade em torno de sua marca.

Assista gratuitamente o vídeo deste e dos demais encontros da CoP ABO Brasil

Estas foram algumas reflexões sob a minha ótica do evento. Aproveito e convido você para assistir ao vídeo deste encontro na íntegra, clicando neste link.

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Co-Fundador da ABO Academy, sócio e head de Consultoria na  SURYA | Business Agility Getting Real (2001), uma empresa de consultoria e educação executiva, referência em Agilidade de Negócios no Brasil, que desenvolve programas de aceleração de resultados baseados nas abordagens Lean, Ágil e Exponencial (ExO).

Formado em Publicidade e Propaganda, especialista em Marketing Estratégico e Mestrando em Ciência da Computação, atua como palestrante, mentor e consultor em projetos de agilidade de negócios e transformação digital de empresas.

Sou um incentivador, estudioso e disseminador dos princípios e valores presentes no papel do Agile Business Owner. Um modelo de liderança para a nova economia digital, que unifica o que há de melhor dos pensamentos Lean, Ágil e Exponencial e torna líderes de negócio agentes inspiradores e catalisadores de mudanças organizacionais.

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