Waze e a filosofia por trás dos OKRs
O contexto explícito de mundo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) que estamos vivenciando tem catalisado profundas transformações no ambiente de negócios. Com o propósito de se reinventar e sobreviver ao cenário atual, muitas organizações desejam acelerar a transformação de seus modelos gestão e o método OKR tem sido uma escolha frequente.
OKR é o acrônimo de “Objective and Key Results”, denominação do método de gestão orientado à objetivos criado por Andy Grove na Intel e difundido posteriormente por John Doerr. O modelo se popularizou por ter sido adotado por grandes players como Google, GE, Amazon, Oracle, entre outros. Seu principal benefício está em ajudar as organizações a criarem valor por meio de foco, alinhamento e melhor comunicação.
No que tange a gestão, o movimento atual é de migração para uma abordagem cada vez mais ancorada numa liderança que comunica propósito inspirador, missão, visão e objetivos claros (os porquês) e numa estrutura orgânica que realiza o como (processos, projetos, estrutura, capacidades) de forma colaborativa.
Essa é uma forte tendência no mercado brasileiro, que pode ser observada pela grande quantidade de organizações que recentemente passaram a adotar o modelo OKR na gestão. A provocação que trago para a reflexão é: Estamos adotando corretamente a filosofia por trá dessa poderosa ferramenta?
Neste artigo, vou fazer uma analogia com o aplicativo Waze para explicar o que realmente está por trás da filosofia do OKR. Caso você não conheça os conceitos e princípios do OKR, recomendo a leitura prévia deste artigo, escrito por Thomaz Ribas.
Para começar a reflexão: Você é capaz de imaginar alguém recorrer ao Waze para estimar o tempo de chegada no seu destino mas, após o início da corrida, colocar o celular no bolso e não acompanhar mais as suas atualizações? Assim como o Waze foi projetado para manter o motorista informado em tempo real sobre eventos e condições do trajeto, bem como mudanças no tempo de chegada e recomendação de novas rotas, os OKRs foram desenvolvidos para orientar continuamente a tomada de decisão nos ambientes de negócio.
O setup do Waze e as políticas organizacionais
A interface de configuração do Waze é extremamente relevante para balizar o aplicativo na criação de suas rotas. Esse setup inicial orientará o algoritmo do Waze em toda a toma de decisão para definir o melhor caminho baseado nas preferências do usuário.
Com base nisso, decisões serão tomadas automaticamente em função de custos, riscos, comunicação e tempo de chegada. Seguem alguns exemplos:
- Tempo: Evitar estradas de terra, evitar vias expressas;
- Custo: Evitar pedágio, evitar balsa;
- Comunicação: Definição de alertas, mostrar limite de velocidade, alerta de velocidade ultrapassado, notificações;
- Risco: Evitar conversões difíceis;
Políticas organizacionais são definidas como orientações que balizam as ações para o atingimento das metas e objetivos estabelecidos pela organização. Fazendo a analogia com as configurações do Waze, apresento algumas perguntas baseadas nos quatro critérios tratados anteriormente
- Tempo: As expectativas de time to market planejadas pela alta gestão são claras para a camada tática e operacional da empresa?
- Custo: A liderança tem propriedade no que diz respeito a custo benefício das ações e iniciativas?
- Comunicação: A comunicação organizacional é assertiva de forma a apresentar apenas as informações relevantes para cada público? Por exemplo alta gestão abastecida em tempo real com dados estratégicos enxutos, ou seja sem dados operacionais desnecessários, focando no que é relevante.
- Risco: A gestão de risco para tomada de decisão é feita em todos os níveis, com base em critérios alinhados com a estratégia da empresa?
O destino no Waze e os objetivos organizacionais
Informar com precisão o destino é um pré-requisito básico para que o Waze opere com eficácia e eficiência. Devido a isso, o primeiro dado que deve ser informado é: “Para onde vamos?”
Trazendo o contexto do Waze para o mundo de negócios, as práticas de liderança do século XXI estão amplamente ancoradas em inspirar colaboradores a gerar resultados que contribuam com o atingimento de objetivos de negócios específicos.
A estruturação dos OKRs de uma organização pode ser iniciada com a mesma pergunta feita pelo Waze: “Para onde vamos?”. A diferença é que, no contexto empresarial, são definidos os objetivos com base em períodos de tempo. Diante das orientações estratégicas, os OKRs devem suportar a execução das ações com um claro direcionamento de objetivos que devem ser atingidos a cada período de tempo.
Independente de você utilizar ou não OKRs como ferramenta de gestão, faça à si mesmo as seguintes perguntas:
- O quanto os colaboradores da empresa conhecem a estratégia de crescimento?
- O quanto os colaboradores sabem quais objetivos devem ser atingidos a cada período de tempo?
- Esses colaboradores têm consciência de quais objetivos estão relacionados com suas tarefas do dia a dia?
- Qual o impacto dessas informações na vida de um profissional do conhecimento?
As rotas no Waze e o processo colaborativo
No Waze, após a definição do destino, ainda existe a possibilidade de escolha da rota a seguir. São oferecidas opções criadas, como vimos anteriormente, baseadas nas configurações do usuário.
Nesse momento é importante ressaltar que as alternativas de rota não são criadas pelo usuário. O Waze possui um algoritmo que utiliza informação e inteligência coletiva para gerar as opções de trajetos. Nesse sentido as alternativas de rotas são criadas baseadas na informação e conhecimento coletivo de quem está percorrendo o trajeto. Ou seja, quem de fato conhece no detalhe o terreno que iremos percorrer, os obstáculos e o dia a dia.
Com relação à analogia do Waze, as perguntas que ficam com relação à adoção de OKR na sua empresa são:
- As iniciativas e projetos da empresa são criadas com base no processo colaborativo de diversas áreas do negócio que conhecem os problemas e as oportunidades do dia a dia sobre diversas perspectivas?
- Possuímos, como o Waze, um algoritmo empresarial (processo) que fomente nos colaboradores o conhecimento dos detalhes da nossa operação, colaborando na criação das iniciativas geradoras de hipóteses para os resultados chave da empresa?
A adaptação do caminho e o feedback constante
O cenário de negócio atual trás consigo a necessidade frequente de adaptação ao longo do caminho. O Waze opera mudanças de rota e feedbacks constantes com maestria. O aplicativo está constantemente coletando dados do percurso e avaliando a possível necessidade de alteração de caminho. Caso aconteça algo que implique na necessidade de mudança de trajeto, o aplicativo imediatamente recalcula a rota e apresenta todas as novas informações necessárias para o usuário.
No dia a dia das corporações, a mudança de rumos também é necessária. Eventos e acontecimentos de mercado, ações da concorrência, bem como demais oportunidades e ameaças, podem gerar a necessidade de adaptação.
Trazendo para o seu dia a dia da gestão, o que você acha dessas perguntas?
- Como é realizado o acompanhamento de seu ambiente de negócios? Com qual frequência isso ocorre?
- Os feedbacks do mercado são utilizados para aferir se estamos na rota certa?
- A empresa aprende e decide rápido? Como essas informações geram novos planos de ação para atender o novo contexto de mercado?
O progresso na rota e a transparência na comunicação
Diversas pesquisas provam que a alta performance está diretamente relacionada com o acompanhamento do progresso e a celebração de cada passo dado na direção de nossos objetivos. O Waze apresenta essa informação atualizada em tempo real e ainda informa o próximo passo que será executado, o tempo restante, a hora de chegada e a quilometragem a ser percorrida constantemente.
As cadências de acompanhamento dos OKRs tem o propósito de capturar informações de evolução em direção ao progresso, gerar insights de mudanças de rota baseadas no aprendizado e manter as pessoas informadas de onde estamos, quando vamos chegar e ajustes de rotas necessários. Somado a isso, o método OKR recomenda transparência máxima com relação aos dados atualizados de evolução dos OKRs. Além de expor esses dados em reuniões corporativas, recomenda-se disponibilizar um canal de acesso fácil e individual ao dashboard corporativo.
Pensando no seu ambiente corporativo, e reflita com essas novas questões:
- Os checkins dos OKRs são realizados periodicamente em todos os níveis da organização?
- São realizadas coletas de dados sobre a evolução do progresso da empresa durante os checkins?
- Todos os colaboradores possuem acesso fácil aos OKRs atualizados?
- Mudanças de rotas são rapidamente informadas à todos da corporação?
- Todos sabem para onde estamos indo, em que parte do caminho nos encontramos e quando iremos chegar?
- São realizadas comemorações quando são atingidos resultados ou objetivos importantes?
Conclusões – Waze e a filosofia por trás dos OKRs
A filosofia por trás método OKR está finamente alinhada com as teorias de liderança do século XXI. O conjunto dessa base de conhecimento prega um estilo de liderança que inspire com base em propósito e objetivos claros. Estes são os direcionadores para que equipes auto organizadas atinjam alta performance medida por resultado de negócio, aprendizado empresarial, engajamento, realização e felicidade.
Este texto apresentou uma série de reflexões e provocações sobre a adoção da filosofia de OKR como um todo. Observando-se esses pontos, fica claro o desafio de como vivenciar essa filosofia dentro das organizações.
Co-Fundador da AgileBox, sócio fundador da Prosler empresa de consultoria em agilidade e Enterprise Agile Coach na ADP Labs. Formado em Publicidade e Propaganda, e analise e desenvolvimento de software e especialista em Marketing atua como palestrante, consultor em projetos de agilidade de negócios e Agile Coach. Sou um entusiasta na busca de novas formas de colaboração para formar times que sejam obstinados por atingir resultados extraordinários. Quando o assunto é agilidade, sou um disseminador dessa filosofia em todos os momentos.
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