5 Passos Para Tornar a Cultura de Dados uma Realidade na Sua Empresa
Cultura, já disse alguém, é o que sobra quando esquecemos tudo aquilo que aprendemos. Cultura também pode ser entendida como os hábitos que criamos e, intencionalmente ou não, sustentamos e passamos adiante. São coisas que fazemos quase que automaticamente.
Hábitos – reflexo de nossa cultura – podem ser nossos aliados ou nossos inimigos. Por isso é importante nos esforçarmos para criar e sustentar hábitos que nos ajudem, que movam nossa vida para frente. Do contrário, nós mesmos seremos parte do problema ou até o problema.
No mundo atual, em que a empresa se tornou invisível, experimentamos uma constante tentação de agir por intuição, o que é muito perigoso. Numa realidade cada vez mais volátil, complexa, incerta e ambígua (VUCA), a intuição pode nos levar a decisões catastróficas.
A fim de crescer de forma sustentável, uma empresa precisa se esforçar ao máximo para usar todo conhecimento disponível em seu dados para endossar cada decisão em todos os aspectos de seu negócios. O resultado desse esforço é a internalização do hábito de tomar decisões embasados em dados em todos os colaboradores. Atualmente, esse hábito na gestão empresarial tem sido chamado de Cultura Data Driven, ou Cultura Orientada a Dados.
A tradução de Data Driven Culture para Cultura Orientada (ou Direcionada) a Dados não transmite claramente a ideia por trás deste conceito. Por isso, escolhi traduzir Data Driven Culture por “o hábito da tomada de decisão embasado em dados e fatos (gestão factual)”.
Como desenvolver uma Cultura Data Driven?
É difícil afirmar, de forma categórica, como desenvolver uma cultura, seja qual for. Porém, abundam os exemplos de como destruir uma! Se você quer alimentar e incentivar na sua empresa o hábito da tomada de decisão baseada em dados, no mínimo evite atrapalhar o processo.
Apresento, a partir da minha própria experiência no tema, uma lista de 5 passos importantes para ajudar sua cultura de dados a florescer. Confira os 5 passos que listo a seguir e pense sobre como eles estão sendo tratados em sua empresa.
Passo 1: Elimine as barreiras de acesso aos dados
O ser humano vive em uma constante corrida contra o tempo. Há muito a ser feito, mas não há tempo para fazer tudo bem-feito. Alguma coisa sempre ficará para trás, ou sempre sairá com a qualidade aquém da que esperávamos a fim de dar espaço a resolução de problemas mais importantes.
Quando um de seus gestores encara um problema de negócio e precisa escolher o melhor caminho, ele precisa tomar a decisão no menor tempo possível. Entre gastar um dia inteiro procurando dados que confirmem sua opinião e tomar uma decisão assumindo riscos desnecessários, essa pessoa pode escolher assumir os riscos. Cedo ou tarde, tal atitude vai levar a uma decisão ruim. O acúmulo de decisões ruins vai pesar e, antes que se deem conta, vocês estarão se perguntando “como foi que chegamos aqui?”.
Para ajudar quem quer usar dados a tomar decisões de forma rápida e efetiva, garanta que os dados estejam à mão, sem custos relevantes. Pode ser uma pasta compartilhada com arquivos Excel ou pode ser um time pronto a responder qualquer solicitação – não interessa. Invista em simplificar o caminho entre a identificação da necessidade e a solução do problema.
Passo 2: Acelere a prática da análise de dados
A maioria dos profissionais não analisa dados o tempo todo, mas apenas esporadicamente. Consequemente, nem todo profissional desenvolve a mesma habilidade e desenvoltura para analisar dados. De novo: quando há muito a ser feito, mas não há tempo suficiente para tudo, alguma coisa fica para trás. Então, mesmo que o dado esteja acessível e pronto, fazer a análise pode ser trabalhoso, ou pior ainda, pode levar a conclusões erradas.
Análises infrutíferas, confusas ou erradas minam o interesse e o valor dos dados para seus colaboradores. Para reduzir esse problema ajude-os a fazer boas análises: contrate alguém para isso. Examine as fileiras, procure o nerd analítico, o cara que pede dado de tudo, e convide-o para o papel de mentor em análises de dados, full-time.
Esse especialista pode tanto realizar análises para si ou para os outros, como uma terceirização interna, orientando os interessados a desenvolver uma nova competência analítica.
Passo 3: Lidere pelo exemplo
Com um mínimo de suporte disponível – dados acessíveis e um especialista para desatar nós – insira gradualmente análises em suas reuniões, em especial as de gestão tática e estratégica. Quando precisar falar sobre um tópico, reúna dados e produza uma interpretação dos mesmos. Se você chamar o especialista para te ajudar, dê-lhe os créditos em público.
Da mesma forma, não evite as perguntas difíceis: se quiserem saber porque você escolheu A ou B, esteja pronto para justificar a partir dos dados. É batido e meio piegas, mas a frase é verdadeira: seja a mudança que você almeja para seu mundo.
Passo 4: Estimule o suporte à decisão
Quando sua equipe apresentar qualquer questão a respeito de seus negócios, faça com que os cenários e proposições venham acompanhados de dados e análises que sustentem os mesmos. Mas faça isso apenas se sua empresa é capaz de oferecer:
- Um recurso simples que garanta acesso às informações;
- Um especialista para guiar os interessados nos meandros analíticos;
- Um líder (você!) mostrando a todos que a empresa valoriza decisões claramente embasadas em dados.
Sem o suporte dos itens acima, este passo pode parecer hipocrisia: cobrar dos outros o que você mesmo não faz ou não ajuda a fazer. Hipocrisia e demagogia são venenos silenciosos. Destroem suas iniciativas por dentro, até sobrar apenas uma casca “para inglês ver”.
Passo 5: Tenha um plano de evolução
Dê mérito a qualquer um dos passos realizados na direção correta. Corrija as atitudes e ações que perturbam o hábito de utilizar dados na tomada de decisão. Seja paciente: culturas levam tempo para serem desenvolvidas.
Quando o assunto estiver maduro e os resultados positivos começarem a ser confirmados, de maneira natural, sua equipe irá querer ir além, demandando mais recursos e mais suporte. Você irá notar isso porque o “quebra-galho” do passo 1 ficará pequeno diante de tanta demanda. O seu especialista estará continuamente assoberbado e um argumento comum nas conversas será “onde você viu isso nos dados?”.
Quando esse momento chegar, você terá que dobrar a aposta: será necessário investir na capacidade de disponibilizar dados e sistematizar o suporte à análise, institucionalizando o hábito analítico. Esteja pronto para esse dia!
Acompanhe regularmente o que se passa na equipe desde o passo 1, quando o assunto são as decisões baseadas em dados. Use esse conhecimento para construir um plano que reforce as coisas boas e mitigue as ruins. E sempre, acima de tudo, evite atrapalhar.
Conclusão
Cultura é aquilo que nasce da interação entre os indivíduos, em uma complexa dança de liderança, comando e imitação. Ao invés de pensar muito profundamente sobre a questão, foque em criar e reforçar os hábitos que irão alavancar os resultados da empresa.
Siga um percurso simples, enxuto, aberto a ajustes e experimentação:
- Ajude quem quer a conseguir os dados que precisa: derrube barreiras de acesso aos dados;
- Apoie quem quer analisá-los, provendo um bom serviço: traga um especialista;
- Dê o exemplo: mostre o que é importante, premie as ações na direção certa e ajuste as atitudes divergentes;
- Cobre a materialidade da informação: demande a análise de cada decisão importante e questione as conclusões;
- Prepare-se para melhorar o suporte ao uso e análise dos dados: estabeleça uma equipe independente, invista em recursos que irão suportar o hábito da análise de dados.
Não há receita para o sucesso, mas abundam as receitas para o fracasso.
Se não for ajudar, não atrapalhe!
Físico pela Unicamp, atuou como Gerente de Soluções no SAS, multinacional de BI, com mais de 20 anos de experiência no mercado de Inteligência de Negócios e soluções de dados. No SERPRO desde 2005, atuou na Superintendência de Desenvolvimento (SUPDE), no papel de Analista de Sistemas do Projeto de Data Warehouse Pessoa Física da RFB. Hoje está na área de gestão de produtos. Participou de várias edições do Pentaho Day, do Congresso de Tecnologia da FATEC São Paulo e na edição de 2015 da Latinoware, além de inúmeras palestras sobre BI, BigData, Data Warehouse, Agile BI e Data Culture. Autor e instrutor dos cursos "BI com Pentaho" e "Agile BI com Pentaho". Co-autor do primeiro livro sobre Pentaho em Português, "Pentaho na Prática", autor do livro "Fundamentos de Inteligência de Negócios". Minha imagem de capa, de Stefan Keller, disponível em Pixabay é um texto sobre a figura de UFO ameaçador - como são os dados para as idéias pré-concebidas.
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