Intraempreendedorismo e Dono de Negócio: Impulsionando inovação e valor para todas as partes

Esse texto propõe uma reflexão abordando dois termos que parecem estar em extremos opostos atualmente: empreendedor e dono de negócio.

De um lado, o empreendedor, frequentemente retratado como um herói, é muitas vezes reconhecido por sua história marcada por coragem, determinação e habilidade para superar desafios. O empreendedorismo é muitas vezes considerado um ato heroico, pois é amplamente percebido como a chave para o sucesso das empresas modernas, mesmo diante das diversas adversidades que enfrentam.

Por outro lado, temos o dono de negócio, uma derivação do termo “empresário”, que frequentemente é associado a uma figura vilanesca na história. Essa percepção é compreensível quando consideramos uma série de fatores sociais, econômicos e culturais que remontam às primeiras revoluções industriais. A desigualdade de renda e a exploração dos trabalhadores são questões que ainda ecoam nos dias de hoje. Muitos associam esses problemas aos empresários que construíram impérios, vistos como beneficiários desproporcionais do sistema econômico, enquanto os trabalhadores lutam para sobreviver com salários baixos e, em muitos casos ao redor do mundo, em condições de trabalho precárias.

Diante desses dois conceitos aparentemente opostos e do entendimento do porquê de estarem assim, gostaria de explorar o que há de comum entre suas definições para apresentar uma nova perspectiva sobre o papel do “dono de negócio”. Esta nova abordagem visa integrar visões distintas visando impulsionar a geração de valor dentro das organizações, destacando a importância deste objetivo sobre a discussão de qual lado é superior. No entanto, convido você a formar sua própria reflexão sobre o assunto.

Ressignificando a expressão “Dono de Negócio”

Para começar, é fundamental entender o conceito de “dono de negócio” e esclarecer que nem todo empresário está desvirtuando a principal razão de existir de uma empresa, que é gerar valor para todas as partes interessadas impactadas por suas atividades, incluindo clientes, funcionários, acionistas, comunidade e meio ambiente. Este conceito é amplamente defendido pelo economista e professor Michael Porter, da Harvard Business School. Em seu artigo “Creating Shared Value” (“Criando Valor Compartilhado”), publicado na Harvard Business Review em 2011, Porter argumenta que as empresas devem reconhecer que sua prosperidade está intrinsecamente ligada à saúde econômica e social das comunidades em que operam.

Seguindo essa abordagem, Joseph Schumpeter, renomado economista austríaco, definiu o empresário (ou dono de negócio) como um agente de mudança e inovação no sistema econômico. De acordo com Schumpeter, o empresário é responsável por introduzir novas combinações de meios de produção, novos produtos ou novos métodos organizacionais. Ele desempenha um papel crucial no processo de “destruição criativa”, que impulsiona o progresso econômico ao criar espaço para a emergência de novas ideias e abordagens.

A integração dos pensamentos de Porter e Schumpeter nos leva a considerar que o empresário, ou como estou chamando aqui de “dono de negócio”, é um agente de mudança que opera em uma organização em meio a um mercado em constante e acelerada evolução. Ele deve ter a capacidade de assumir riscos financeiros em busca de lucratividade para a empresa, enquanto atua com responsabilidade para garantir que a organização gere valor para todas as partes interessadas, incluindo clientes, funcionários, acionistas, comunidade, entre outros.

Compreendendo o papel de empreendedor

Do outro lado, temos o “empreendedor”, conceito originado pelo economista francês Jean-Baptiste Say no século XIX, que descreve alguém muito semelhante ao que acabei de definir como “dono de negócio”. Segundo Say, empreender envolve assumir riscos para iniciar e operar um novo empreendimento, com o objetivo de criar valor ou introduzir uma ideia inovadora no mercado. No entanto, ao longo dos anos, essa definição evoluiu para incluir não apenas aqueles que iniciam novos negócios, mas também os que introduzem novas ideias e processos em organizações já existentes, os chamados intraempreendedores.

Os empreendedores ou intraempreendedores frequentemente são visionários em seus campos, introduzindo novas ideias, produtos e serviços que têm o potencial de revolucionar indústrias inteiras. Sua habilidade para pensar de forma inovadora e encontrar soluções criativas para desafios complexos é amplamente admirada. Isso requer assumir riscos significativos, seja financeiros, pessoais ou profissionais.

Em suma, uma pessoa empreendedora está sempre pronta para enfrentar esses desafios e persistir, mesmo diante de obstáculos, seja dentro de uma empresa estabelecida ou ao criar seu próprio empreendimento. Isso demonstra resiliência diante do fracasso e a capacidade de se recuperar e seguir adiante.

Sinergia entre intraempreendedoríssimo e dono de negócio para gerar mais valor

Ao examinarmos minuciosamente as definições de dono de negócio e empreendedor, fica evidente que ambos têm o mesmo objetivo: o sucesso da organização. O que pode ser interpretado negativamente ao se referir ao dono de negócio é o foco explícito nos objetivos comerciais, que estão diretamente relacionados à lucratividade, representada por um conjunto de três indicadores fundamentais dentro da perspectiva de Resultado Financeiro: Receita, Custo e Investimento.
Contudo, esse é apenas um dos pontos de atenção para o dono de negócio, juntamente com outros objetivos de resultado. É fundamental assumir uma responsabilidade extrema pelo sucesso do negócio, e a lucratividade desempenha um papel crucial nesse aspecto. No entanto, é importante não tratar a lucratividade como o “Lord Voldemort corporativo”, em uma alusão ao principal antagonista da série de livros Harry Potter de J.K. Rowling, que é tão temido no mundo dos bruxos que até mesmo falar seu nome é considerado perigoso. A lucratividade deve ser encarada como um dos pilares do sucesso de uma organização e não pode ser negligenciada ou colocada em segundo plano.

Conclusão

No final das contas, mais do que compreender a distinção entre o intraempreendedor e o dono de negócio, é crucial para as organizações desenvolver a capacidade de manter e inovar a maneira como geram valor para todas as partes interessadas. Essa jornada busca não apenas a prosperidade imediata, mas também a perenidade, ou seja, a capacidade de uma empresa se sustentar e prosperar no longo prazo. (Leia mais sobre Prosperidade e Perenidade aqui)

Nesse sentido, é essencial que as empresas incentivem e apoiem o aprimoramento de um conjunto de capacidades que permitam isso, auxiliando na antecipação das mudanças de mercado e na superação dos concorrentes. No entanto, muitas organizações enfrentam desafios ao implementar esse modelo, pois a prosperidade e a perenidade parecem ser mundos distintos.

A inovação, associada à perenidade por privilegiar o olhar para o futuro, explora caminhos geralmente não percorridos pela empresa e demanda tempo e habilidades diferentes daquelas necessárias para manter e sustentar as operações de negócio no presente, garantindo a prosperidade. Muitas vezes, gestores relatam a falta de espaço para a inovação dentro da estratégia da empresa, devido à disputa por recursos internos e externos, e muitos não estão preparados para lidar com essa dualidade.

Portanto, é fundamental que os gestores adotem métodos adequados para estimular a ambidestria dentro de suas empresas, criando ambientes que incentivem a criatividade e oferecendo suporte para que as ideias sejam ouvidas e colocadas em prática.

Em resumo, o segredo para o sucesso das empresas no mundo atual é incentivar uma cultura de inovação, empreendedorismo, liderança visionária e foco na geração de valor de forma sustentável, incluindo a lucratividade e não permitindo que esta seja apenas uma consequência nos debates estratégicos de uma organização. Assim, assumimos que no modelo mental de um Dono de Negócio, estamos incluindo o lado empreendedor que permitirá impulsionar o crescimento sustentável de um negócio em todos os aspectos, seja social, econômico ou ambiental. Isso também ajuda a manter a competitividade em um mercado em constante mudança.

Quer se aprofundar mais nesse tema?

Ebook “Gestão Evolucionária Gestão Evolucionária – Como integrar a gestão estratégica com a ambidestria organizacional” – Baixe Gratuitamente AQUI!

Co-Fundador da ABO Academy, sócio e head de Consultoria na  SURYA | Business Agility Getting Real (2001), uma empresa de consultoria e educação executiva, referência em Agilidade de Negócios no Brasil, que desenvolve programas de aceleração de resultados baseados nas abordagens Lean, Ágil e Exponencial (ExO).

Formado em Publicidade e Propaganda, especialista em Marketing Estratégico e Mestrando em Ciência da Computação, atua como palestrante, mentor e consultor em projetos de agilidade de negócios e transformação digital de empresas.

Sou um incentivador, estudioso e disseminador dos princípios e valores presentes no papel do Agile Business Owner. Um modelo de liderança para a nova economia digital, que unifica o que há de melhor dos pensamentos Lean, Ágil e Exponencial e torna líderes de negócio agentes inspiradores e catalisadores de mudanças organizacionais.

Artigos Relacionados

Comentários