O mimetismo da agilidade de negócios

Agilidade de Negócios, ou Business Agility, vem sendo definida como a capacidade de uma organização atender rapidamente às necessidades de seus clientes e se adaptar às tendências e mudanças de um mercado cada vez mais VUCA e Digital. Mas, o desejo por esta “agilidade” parece estar cada vez mais imitativa ou “mimética”, fazendo com que líderes e gestores decidam copiar aquilo que foi feito por outras empresas.

Dessa forma, a ideia deste texto é trazer uma visão pragmática sobre o tema. Este olhar é resultado dos trabalhos da SURYA, nossa empresa de consultoria dedicada a tornar a Agilidade de Negócios uma realidade nas empresas, somado aos conhecimentos obtidos por meio de estudos do mundo todo e do apoio da ABO Academy na pesquisa acadêmica.

O mimetismo que envolve a busca pela Agilidade de Negócios

Um estudo conduzido na Finlândia (2018) e na Suécia (2019), revelou que as metas operacionais parecem estar mais em foco do que as estratégicas de negócios, quando o assunto em questão é Agilidade de Negócios. Isso leva a crer, segundo os pesquisadores, que as empresas não abordam a agilidade de forma estratégica a partir de uma perspectiva empresarial e no nível de negócios.

Diante disso, algumas perguntas surgem:

  1. Por que a busca pela Agilidade de Negócios se tornou uma obsessão empresarial?
  2. O que leva empresas à focarem em metas organizacionais e apenas replicar métodos ágeis nos departamentos?

Sendo assim, René Girard, um historiador, antropólogo e crítico literário francês, conhecido por ter sistematizado o que chamou de Teoria Mimética, afirma que o desejo é imitativo ou ‘mimético’, e não inato, o que faz com que os seres humanos copiem os desejos uns dos outros. Se olharmos bem, a resposta da primeira pergunta está em uma característica humana, o que fica ainda mais claro, quando o sucesso de muitas empresas contemporâneas, está associado à adoção de um modelo ágil de gestão de negócios.

Paralelo a isso, é sabido que muitas empresas grandes e já estabelecidas, estão demonstrando que seu foco tradicional na eficiência não as protege mais das flutuações do mercado, nem proporciona os lucros do passado. Seus modelos de negócios precisam ser redesenhados, como bem pontuado no livro Business Agility: Sustainable Prosperity in a Relentlessly Competitive World, de Michael Hugos.

Além disso, muitos gestores, mesmo sem saber que conceitualmente existem diferentes tipos de agilidade como a operacional, organizacional, estratégica e agilidade de negócios. Por conveniência, tratam tudo como uma coisa só. E o desejo em “ser ágil”, vem do fato de que outros líderes afirmam obter os resultados incríveis por serem ágeis, ou seja, se essa é a receita de sucesso, é preciso adotar esse modelo o quanto antes.

Diante desse contexto de “mimetismo ágil”, muitos gestores ainda seguem as estratégias baseadas em conceitos do século XX, o que responde a segunda questão, ou seja, procuram atingir com a agilidade as metas operacionais, reduzindo o potencial da Agilidade de Negócios para uma Agilidade Organizacional.

Agilidade de Negócios é uma nova área do conhecimento

A grande maioria de especialistas no mercado concordam que Agilidade de Negócios é uma capacidade empresarial, que vem sendo descrita há muitos anos, mesmo antes do manifesto ágil existir. Esse assunto era debatido dentro da ciência da administração e ganhou força nos últimos anos, pela popularidade do movimento ágil no desenvolvimento de software e os seus impactos em outros contextos.

Diante disso, Agilidade de Negócios é tratada como sinônimo de Agilidade nos Negócios, mas é muito importante saber respeitar esses limites. O cientista chefe da ABO Academy, Rafael Prikladnicki escreveu um texto bastante esclarecedor sobre essa diferença, que você pode ler aqui.

Posto isso, é inegável que os valores descritos no manifesto ágil seguem sendo a base da Agilidade de Negócios, a grande questão é compreender o impacto disso nos negócios. No manifesto é exaltada a importância de que responder à mudança é maior que seguir um plano, o que também é verdade, que a velocidade de reação é tão importante quanto o tempo que uma organização leva para implementar uma mudança, de forma mais rápida que seus concorrentes. Organizações na nova economia digital devem ser entidades emergentes, capazes de adaptar continuamente a um conjunto de “objetivos em movimento”.

Essa proximidade com os valores ágeis trazidos no manifesto, parece ainda causar uma certa confusão conceitual quando falamos de Agilidade de Negócios. John Orvos, logo no prefácio de seu livro Achieving business agility: strategies for becoming pivot ready in a digital world, faz uma espécie de desabafo sobre essa “confusão conceitual”. Ele foi em 2017, como expectador, em um evento sobre Agilidade de Negócios, em Nova Iorque, nos Estados Unidos com a expectativa de ouvir algo novo sobre esse tema. Segundo Orvos, o que aconteceu foi uma espécie de “copia e cola” nos diferentes discursos que ouviu. Diversos profissionais contaram seus casos de sucesso e como as diferentes áreas de suas empresas adotaram os conceitos de agilidade. Ou seja, nada novo, como o próprio Orvos cita, foram os valores e princípios ágeis várias vezes repetidos pelos palestrantes, mostrando como a agilidade se “espalha” pela empresa.

Seguindo nessa vertente, acreditamos que o campo da Agilidade de Negócios está em constante aperfeiçoamento, e por se tratar de um conceito que remete ao futuro da agilidade, ainda causa uma divisão de opiniões. Uma das causas desse desalinhamento, pode estar relacionado ao volume, ainda pequeno, de publicações científicas sobre o tema em todo o mundo.

Dessa forma, mesmo sendo uma área de conhecimento em plena evolução, a Agilidade de Negócios tem o claro objetivo de desenvolver novas capacidades organizacionais que viabilizem:

  1. Responder rapidamente às necessidades dos clientes e demais partes interessadas;
  2. Adaptar-se às mudanças e tendências de um mercado cada vez mais digital;
  3. Acelerar o crescimento pela inovação na conquista de diferenciais competitivos;
  4. Realizar as transformações necessárias de forma sustentável;
  5. Atrair, desenvolver, liderar e motivar talentos.

Estes 5 elementos, retratam um conjunto de expectativas que muitos gestores nos revelam quando iniciamos a jornada de aceleração de negócios, o nome que batizamos nosso programa de consultoria que tem auxiliado na “transformação ágil” de grandes empresas no Brasil.

O que podemos concluir disso tudo

O mundo está repleto de artigos, livros, eventos que exploram os princípios do manifesto ágil. Abordam valores como entregar valor continuamente, colaboração e adaptação às mudanças inesperadas e trazem isso como a definição de Agilidade de Negócios. Na verdade, é uma simples replicação do que o manifesto ágil trouxe em 2001. Uma releitura dos valores e princípios, que são resultado de um grande benchmarking de todos os projetos mundiais de desenvolvimento de software que tiveram enorme sucesso.

Mas, podemos olhar por outro viés, como Conboy e Fitzgerald, nos sugerem. Segundo os autores, agilidade de negócios é “a contínua prontidão de uma organização em abraçar de forma rápida, proativa ou reativa, a mudança, através de alta qualidade, simplicidade, sustentabilidade de soluções condizentes com seu contexto”. E podemos ir além, empresas que buscam pela Agilidade de Negócios, estão inseridas em um ambiente em que as organizações são confrontadas frequentemente com avanços tecnológicos, incertezas, questões regulatórias e pressões do time-to-market.

Em resumo, o que deve motivar líderes de negócio a buscarem compreender e perseguir a Agilidade de Negócios, é a oportunidade de desenvolverem em suas empresas a capacidade de detectar mudanças relevantes ao seu contexto e reagirem de forma oportuna e eficaz, o que é, hoje em dia, um fator importante para a sobrevivência de quaisquer organizações no mundo.

Percebo por fim, que mais do que buscar se adaptar ao mundo, empresas em constante evolução devem ser capazes de criar algo que o mundo irá buscar se adaptar à elas.

Participe do debate, traga também a sua visão sobre o tema

Estas foram algumas das reflexões que costumo fazer por aqui. Tem muito dos achados da minha pesquisa em Business Agility, como base para a minha dissertação de mestrado. Convido você a fazer o mesmo na forma de ensaios ou pequenos artigos, submetendo seu material para email contato@abo.academy.

Você também pode ensaiar a reflexão em nossos Fóruns de Discussão, tornando-se membro da ABO Academy. A inscrição é rápida, gratuita e segura.

Co-Fundador da ABO Academy, sócio e head de Consultoria na  SURYA | Business Agility Getting Real (2001), uma empresa de consultoria e educação executiva, referência em Agilidade de Negócios no Brasil, que desenvolve programas de aceleração de resultados baseados nas abordagens Lean, Ágil e Exponencial (ExO).

Formado em Publicidade e Propaganda, especialista em Marketing Estratégico e Mestrando em Ciência da Computação, atua como palestrante, mentor e consultor em projetos de agilidade de negócios e transformação digital de empresas.

Sou um incentivador, estudioso e disseminador dos princípios e valores presentes no papel do Agile Business Owner. Um modelo de liderança para a nova economia digital, que unifica o que há de melhor dos pensamentos Lean, Ágil e Exponencial e torna líderes de negócio agentes inspiradores e catalisadores de mudanças organizacionais.

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Comentários

  1. Esse final é matador e essencial para uma real empresa focada em Business Agility:

    “Percebo por fim, que mais do que buscar se adaptar ao mundo, empresas em constante evolução devem ser capazes de criar algo que o mundo irá buscar se adaptar à elas.”

    1. Grande Hugo! Para mim essa é a grande essência de um movimento de Business Agility com a visão do líder de negócios. O ritmo de negócios mudou na nova economia digital. Foi acelerado pelas tecnologias exponenciais. Logo, não faz muito sentido o negócio se adequar ao ritmo de alguns frameworks. Por isso que aqui na ABO somos agnósticos aos métodos. Devemos estar de acordo com as tendencias (para sermos competitivos no contexto atual) e buscar constantemente diferenciais competitivos para sermos tendências.

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